Empresas catarinenses adotam novas posturas para acompanhar as mudanças e manterem-se competitivas no mercado. Quem nunca pensou em montar uma empresa? Creio que a maioria das pessoas já teve vontade a abrir o próprio negócio e deixar de ser empregado para ser empregador.
Muitos embarcaram no sonho, trabalharam e ainda trabalham arduamente para torná-lo realidade. Em Santa Catarina surgiram 36.665 empresas de 1º de janeiro de 2006 a 31 de dezembro de 2009, passando de 348.932 estabelecimentos para 385.597. Entre os municípios que mais cresceram em número de empresas estão Florianópolis (+ 4.011), Blumenau (+2.107), Itajaí (+1.726), Balneário Camboriú (+1.518), São José (+ 1.373), Palhoça (+1.286), Joinville (+1.129), Chapecó (+1.093), Criciúma (+892) e Itapema (+639), conforme revela pesquisa sobre Evolução no número de empresas em Santa Catarina (2006-2009), realizada pelo setor de Planejamento, Pesquisa e Estatística do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) em Santa Catarina.
Para ser empreendedor não basta ter um sonho de abrir o próprio negócio, é necessário ter perfil para trabalhar à frente de uma equipe, gerenciar pessoas, ter controle financeiro, fazer a gestão de estoques, contar com software de gestão e ter uma equipe concisa, que entenda para onde a empresa deve caminhar. Esse talvez seja um dos maiores desafios dos empreendedores diante da escassa mão de obra qualificada.
O empresário de hoje é mais consciente, qualificado e precisa estar atento à complexidade que é ser dono de um negócio. Independente do porte da empresa, micro, pequena, média ou grande, o mercado não permite mais a mesma postura de dez, vinte anos atrás. Segundo Ronaldo Pasquini, orientador dos cursos de graduação e pós-graduação no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) em Santa Catarina, especialista em Marketing e Propaganda, Organização, Sistemas e Métodos e Gestão Empresarial, as características empreendedoras e o planejamento prévio melhoraram, mas os processos de gestão e a administração dos problemas pessoais ainda não evoluíram o necessário.
“Trabalhos realizados pelo Sebrae de São Paulo revelam que falta muita formação em gestão , especialmente na capacidade de distinguir o que é pessoa física e jurídica”, explica Pasquini. Outro tema que merece ser debatido é a dificuldade dos empresários lidarem com números. O orientador do Senac/ SC explica que, historicamente, o brasileiro tem dificuldades para trabalhar com questões que envolvam aspectos financeiros e isso se reflete no setor empresarial. Segundo ele, há dois pontos muito claros: a falta de critérios para a precificação de produtos e serviços e a definição dos custos de produção. “A formação contábil e financeira é um ponto fraco do empreendedor brasileiro, que tem dificuldades para administrar o fluxo de caixa e as estratégias do negócio”, critica.
Especialistas creditam ao fluxo de caixa uma das funções mais importantes dentro de uma empresa. Por meio do controle dessa ferramenta é possível comparar o planejado com o executado, possibilitando ações corretivas ou melhorias para atingir os resultados desejados. Pasquini defende que, sem o controle do fluxo de caixa o empresário fica suscetível as contingências de mercado, que a médio e longo prazo inviabilizam o negócio.
Perfil do empresariado catarinense
Durante a Feira do Empreendedor, realizada em maio deste ano, em Joinville, foi observada a presença de empresários mais jovens, com idade entre 20 e 30 anos. Spyros Diamantaras, gerente de Comunicação e Mercado do Sebrae Santa Catarina, argumenta que os jovens estão se inserindo cada vez mais no mundo empresarial e tal fato é fruto da queda do emprego formal e aumento das oportunidades de trabalho autônomo.
Outro fator está relacionado às mulheres. Estudos do Sebrae apontam que elas já são maioria a frente dos negócios no Brasil e buscam mais conhecimento, além de ter como diferencial o domínio de competências manuais. Isso possibilita a elas mais chances de sucesso em ramos como alimentação, beleza e confecções. Santa Catarina possui pólos econômicos diferentes e independentes uns dos outros.
As empresas de origem catarinense nasceram pequenas e ao longo das décadas foram se fortalecendo e crescendo, algumas atingindo o status de grande potência nacional. Conforme Diamantaras, fatores como este possibilitaram um desenvolvimento calcado em cadeias produtivas consolidadas. O Estado também tem vocação exportadora, elevado índice de empreendedorismo, acima da média nacional, e vocação para o associativismo, uma alternativa para o aumento de escala das pequenas empresas e busca pela competitividade.
Ainda conforme pesquisa do Senac/SC sobre Evolução no número de empresas catarinenses, o setor de serviços é o que mais se desenvolveu nos últimos quatro anos. Das dez cidades que tiveram maior aumento no número de novos negócios, oito foram no setor de serviços, sendo que apenas dois municípios, Palhoça e Itapema, tiveram crescimento maior no comércio.
Para Diamantaras, o futuro será de boas oportunidades de investimento no turismo, educação, lazer, segurança, serviços para a terceira idade, comércio e serviços para as classes emergentes, moda, beleza e estética. Luciane Silva, diretora da Saporito e Casa de Minas, de Joinville, percebe mudanças sociais, econômicas e políticas no mercado, além do novo comportamento do consumidor. Segundo ela, o acesso a informação os fez mais exigentes e isso motivou a qualificação da concorrência. “As exigências e pressões requerem mais eficiência na gestão do negócio”, completa Luciane. Para vencer a concorrência ela incentiva o desenvolvimento de talentos na empresa, pois acredita que são as pessoas que constroem e solidificam as organizações. Agilidade, inovação e visão de futuro são ferramentas adotadas por ela, que dirige os negócios há aproximadamente 12 anos atenta às necessidades e desejos do consumidor.
Iniciando um negócio
O orientador dos cursos de graduação e pós-graduação do Senac/SC, Ronaldo Pasquini, conversou com a InfoComércio sobre o mercado empresarial e deu dicas para manter os negócios competitivos: InfoComércio - Para uma empresa nascer com chances de sucesso, o que é preciso fazer antes de abri-la?
Pasquini - Alguns pontos são críticos para o sucesso de um negócio. Entre eles estão: identificar e avaliar as oportunidades de negócios, entender quais são os benefícios aos clientes que serão comercializados, definir o público-alvo, elaborar um Plano de Negócio detalhado (com a previsão/provisão financeira), adquirir fontes de recursos financeiros para aplicar no empreendimento e ter um conjunto de habilidades para gerir a empresa.
IC -E quem já possui um negócio, o que fazer para manterse competitivo no mercado?
Pasquini - Este ponto é um grande desafio, pois as mudanças impostas pela dinâmica do mercado têm exigido uma análise micro e macro do ambiente de negócios. Além da necessidade de manter alto nível de qualidade de produtos e serviços, a empresa, para manter-se competitiva, deve investir de forma constante na inovação. A manutenção de uma empresa no mercado só se garante se ela tiver a capacidade de inovar continuamente.
IC - Novas exigências passaram a vigorar e a mudar a rotina de muitas empresas, como a Nota Fiscal Eletrônica. O que mais deve impactar nos próximos?
Pasquini - O principal elemento a ser considerado está relacionado com a mudança e a instabilidade do comportamento do consumidor. O consumidor moderno, especialmente as novas gerações, tem adotado um contexto de inconstância, que dificulta os processos de fidelização. Aliado a isso, a evolução das tecnologias da informação e comunicação, que permitem a formação de redes sociais, tem alterado substancialmente o comportamento de compra das pessoas. Ainda sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC), é importante ressaltar que elas têm permitido um controle maior do governo, que consegue uma rigidez maior sobre as operações comerciais, passando a adotar as fiscalizações eletrônicas que, com o tempo, bloqueiam e diminuem a ação dos sonegadores.
Diferencial de mercado
O nascimento de um bebê é um acontecimento que envolve praticamente toda a família. Mas como fazer para mostrar esse momento mágico para avós e parentes distantes? Foi pensando nisso que o cinegrafista Cleber Carvalho, que filma partos há 16 anos, investiu em um diferencial de mercado para atender as necessidades dos seus clientes – premissa básica de todo empreendedor.
Nos últimos oito anos ele começou a trabalhar com transmissões ao vivo dos nascimentos de bebês em uma clínica de Florianópolis. Primeiramente, montou um sistema fechado de transmissão que mostrava aos acompanhantes que estavam no quarto da maternidade tudo o que acontecia em tempo real no centro cirúrgico.
“Com o aparecimento da internet percebi que era hora de inovar e comecei a trabalhar para fazer as transmissões para familiares e amigos que estivessem fora da clínica”, conta. A partir daí, Carvalho foi em busca de ferramentas que pudessem tornar a idéia em um novo produto para sua empresa e um diferencial de mercado. Segundo ele, os primeiros meses foram de busca pelo melhor material e testes. “Levei quase um ano e meio até encontrar o método que funcionasse bem e sem custos extras para as famílias”, explica. O produto faz sucesso entre pais e familiares, que acompanham a tudo o que acontece no parto pelo computador. Carvalho já fez transmissões para São Paulo, Minas Gerais, Acre, Rio Grande do Sul e até trabalhos internacionais para Japão, Estados
Unidos, Itália, Grécia, entre outros. O investimento para a família interessada na transmissão ao vivo pela internet é de R$ 380,00, incluindo fotografias do nascimento, visitas, banho, além da entrada e saída da família da maternidade. Como este tipo de trabalho requer um aparato tecnológico, ele faz apenas em uma única clínica da capital, uma das poucas do país a oferecer o serviço.
Fonte: Revista Infocomércio
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